31.12.06

Manual

Minhas palavras não são minhas.
São de quem as lê.
Essas idéias não têm dono.
Estão soltas pra acontecer.
Não há mapa nem instruções,
Nem caminhos pra antever.

Não se engane!

Não me conhecerá
Sem antes se conhecer.

18.12.06

Jóias da vida

Na vitrine da loja viu jóias perfeitas
que resplandeciam vícios e virtudes.
Dilacerando a indiferença dourada aos sonhos,
viu que a esmeralda convidava à fantasia.
Entre curvas e simetrias,
percebeu uma pequena rubidez
do diamante tímido entre as pedras vermelhas.
Quase sem querer,
fitou seu reflexo
no vidro da vitrine,
julgando-se no direito de sorrir:
sorriu com os olhos.

15.12.06

Vem

Vem, menina,
com teu charme azul,
lavar o mundo em cores e
perfumar o céu.
Vem com beijos
e palavras
libertar sorrisos
e corpos contidos
que carregam tua canção
para, então,
sentir o teu sossego,
merecido descanso.

26.11.06

Embaralho

Com tanto entrosamento entre os dois,
Isso já virou um jogo arriscado.
Na mesa, abusando do blefe,
Temendo desmontar o estável.

Será que com as cartas viradas
Prevaleceriam as copas ou as espadas?

14.11.06

Precisa-se de um Título

Preciso urgentemente
De um desses que marque.
Que entregue o jogo
E conte tudo logo de cara.
Que ponha a dúvida em êxtase
Que busque razão no nada.

Preciso de um título
Que dispense a história.
Que fale tudo que eu quero
Em poucas e meias palavras.
Que seja confuso como as mulheres
E direto como uma bala.

Se souberem de algo assim,
Ainda tenho esperança
Que essa busca tenha fim.

Mas preciso logo de um título,
Pois meu peito tem ânsia
De deixar algo escrito.

28.10.06

Mulheres

Ela me surpreende, pelo tanto que já me conhece.
Já ela, me atrai pelo tanto que eu a quero conhecer.
Adoro sua conversa tão afim
E anseio pela que a outra tem a me dizer.

A primeira me faz tão bem que eu a quero bem
A segunda me faz tão mal que eu a quero mais.

Ciente da minha estupidez, eu me vejo de mãos atadas.
Mergulhado na confusão, entre o riso e o pranto,
Só posso crer que eu as odiaria
Se eu não as amasse tanto

23.7.06

Amargo

De certa forma,
Não se pode perder o encanto
Nem se há de querer, no entanto,
Que essa dor vire uma norma.

De alguma maneira,
Devo buscar em outra,
Aquela paixão, aquela coisa louca
Que me tome a alma inteira.

De repente,
Na aparente falta de consciência
Repousava um pedido de clemência
Para que a dúvida se tornasse ausente.

De fato,
Quando o brilho se transforma em breu
Faz-se de crente, um coração ateu
Sem cor e sem nenhum contato.

12.7.06

O amor não existe

o amor não existe.
existe o trago, um conto,
uma frase num bombom.
o amor não existe.

se existisse, seria inútil.
seria estático, imóvel, inerte,
seria pra sempre.
o amor não existe.

se existisse, seria fracasso.
seria dor, medo, sofrimento,
seria a flor que se acaba na beleza.
o amor não existe.

tal amor não existe.
se existisse, seria tolice,
não seria amor.

18.6.06

A Nuvem

Eu a flerto daqui de baixo
Admirando sua alvura inabalável.
Ela é pra mim inalcançável.
Tão graciosa e bela,
Certa de que é o alvo
Do olhar da minha janela.

Parece saber bem o que eu penso
E me provoca, ao balanço do vento.

16.4.06

A pura seda

Deitou-se na cama e,
aos poucos, começou a fiar
uma delicada seda.
Com ela, cobriu seus pés,
suas pernas, seu ventre,
seus seios, sua nuca e,
por fim, sua cabeça.
Ao longo de cinco dias desejou
em preces e cuidados
ser a mais pura e bela mulher.
Quando se romperam os
últimos fios do enclausuramento,
chorou ao ver que o seu amor criara asas.

11.4.06

Deixa acontecer

Você
tantas vezes me falou
da amargura que é sofrer

e vem, assim, dizer
que a razão tem compromisso
só com aquilo que quer ver

E eu que por ti chorei,
quase a perder a noção,
venho em versos lhe dizer:

me beija e se entrega
que jamais o amor se apega
a quem não lhe tem querer

me beija e não nega
que a vida é bem mais bela
se deixa o amor acontecer


* musicado...

21.3.06

Utopia

Que, em fatos,
venham os fardos
da tentação da utopia.
Que nos sorrisos
venha o reflexo
do fim de uma agonia.
Só quem sente o presente
transforma o mundo
e torna a vida
uma alegria.

20.2.06

A Dança

Nem dois pra lá, nem dois pra cá
Nem junto nem solto
Nem elegante nem torto
Nem consciente nem louco.

Sem piruetas nem enfeites
Convidando mas sem garantir
Explicando mas sem discernir
Cativante, te deixando cativo
Transformando o deleite
Em qualquer castigo.

Com feições e afins
Com sorrisos cheios de vida
Que te lembram a morte
Movimentos sublimes
Sem definir-se em passos
Com correntes incrivelmente fortes
Mas sem laços. Sem laços...

13.2.06

ABC da poesia

Hoje eu quis mudar
o mundo com letras.
Ora, se tantos já tentaram
e, para isso, até mataram
com mentiras e baionetas,
por que eu não mudaria
o mundo com letras?

9.2.06

O cu do mundo

Nada é mais imundo
do que o cu do mundo.

5.2.06

Normal

Foi chamado de vagabundo, como se sua dignidade já não estivesse ferida. Foi espancado, como se ainda não soubesse o que é a dor. Foi esmurrado, como se seu rosto já não tivesse rugas. Foi maldito, como se não tivesse alma. Foi descartado, como se não tivesse família. Foi preso, como se realmente tivesse liberdade. E apagou, como se tivesse vida. Mas nunca teve.

24.1.06

Raiz

No jardim de algum lugar
Havia uma árvore linda.
Ela era imensa.
Galhos vistosos, folhas brilhantes...
No entanto, o que mais chamava a atenção,
Era como ela conseguia se manter em pé.
De tanto cavarem pra entender sua raiz,
A árvore acabou caindo.