15.11.04

Muros

Os muros da cidade já não são mais brandos,
São altos e misteriosos
E intolerantes até o topo.

Os muros da cidade já não são mais brancos,
São cheios de esperanças e decepções,
Números e sorrisos
E pichações ridículas, que nessa época, parecem obras de arte.

Os muros da cidade já não são mais tantos,
São apenas barras, uma em cada canto
Revelando o encanto, proliferando ilusão.

Os muros da cidade já não estão mais prontos
Para confortar os pés de quem se arrisca.
E pensar que o perigo era apenas diversão...

2.11.04

D.I.T.

O escritório é logo ali, na casa de tijolos sem reboco...
*No birô central: Jefferson, 36 anos, encarregado das finanças e do balanço diário do caixa. É quem ditribui os lucros.
*Na mesinha lateral: Paulo, 33 anos, responsável pelas aulas de expressão corporal e retórica.
*No departamento culinário: Nice, 25 anos, cozinheira, degustadora e responsável também pelas embalagens.
*No setor de divulgação: Márcio, 17 anos, é quem escreve os bilhetes, panfletos, etc. Responsável secundário por convencer (comover?) o cliente.
*No Siqueira-Papicu-13 de maio mais próximo: Francisco, 8 anos, e Felipe, 12 anos. O primeiro distribui os quadradinhos de papelão confecionados por Márcio (da divulgação), enquanto o segundo, usa de sua retórica e expressão corporal (enriquecidas pelas aulas de Paulo, da mesinha lateral) para tentar vender os saquinhos de bala de gengibre, feitos por Nice.

No final da jornada de trabalho, os meninos caminham até o escritório, na favela do côco, exaustos, e despejam todo o faturamento no birô central. Tiveram muita sorte naquele dia: Francisco conseguira um bom número de esmolas e Felipe vendera boa parte dos saquinhos de bala. No entanto, voltaram para casa com as mãos abanando, pois segundo Jefferson, eram crianças demais para andar com dinheiro nos bolsos, principalmente àquela hora da noite! Pagaria-lhes no final do mês, dependendo do ritmo das finanças.