17.3.10

Daqui a 10 anos

Grande saudade de quem eu fui
Naqueles exatos momentos.
Hoje, sem discernir o que é fuga
Ou desalento.

Apático ou estável, bom ou ruim
Tanto faz!
Posso caminhar lento,
Mas sei que não paro jamais.

14.8.09

Em Decisão

Num plano longo de alvenaria,

Rasguei janelas para criar melodia.


Em frases soltas e notas puras,

Marquei compassos para criar estruturas.


Modulando ou modelando,

Tentei manter minhas duas amantes:

Uma vagabunda, outra mãe de família.


Vagueando ou trabalhando,

Mantinha sempre a decisão errante:

Uma sabia da outra, o bem que me fazia.

25.7.09

Independência ou sorte

Triste a sombra
que nunca faz
o que quer.

8.6.09

(sem título III)

Cavara um buraco tão grande em sua vida
que encontrara um tesouro enterrado:
sua auto-estima.

8.6.08

(sem título II)

Fecho os meus olhos
prendendo o instante
de há um segundo
dentro de mim.

Deito os teus braços
em meu peito. Ouço
os teus sussurros e,
entregue às tuas carícias,
eu me deleito.

Eu não peço licença pra te amar.

23.5.08

Ávido consumo

A ave do consumo
construiu seu ninho
em árvores tropicais.
Alimenta-se do sumo
dos sonhos, transformando-o
em excrementos matinais.

1.5.08

(sem título I)

Da ponta de seus dedos
brotaram raízes
que penetraram o teclado
e se misturaram aos circuitos.
Sua hematosseiva carregava agora
milhares de gigabytes.
Como um girassol que acompanha
o movimento do astro-rei,
acompanhava informações
com a certeza de sua natureza cibernética.

16.4.08

Sonho

Do céu, os tanques caíam,
um a um,
nos campos de terra batida.
A nuvem preta
carregada pelos ventos fortes
manchava a roupa branca.
Em cada árvore,
em cada pedra,
em cada curva do caminho,
uma explosão.
O medo era grande
até alcançarmos o mar.

21.2.08

Na caixinha de jóias

Numa manhã guardou
a felicidade numa caixinha de jóias.
Tão linda e cintilante era ela
que tinha medo de arranhá-la.
Cresceu, conseguiu um bom emprego,
casou-se e viveu vários anos.
Nunca foi feliz.

10.2.08

Retrato pensado

Todas as músicas e poemas
Foram em vão
Porque não viste
O meu coração
Em tuas mãos
O tempo nos mostra
Os laços de amizade
Resistindo aos momentos
Por ter o tecido de sentimentos
O tempo é a fonte do amor
Infinito registro
Bem maior
Que o finito
Internet alcance nosso
Na tua ausência
Faltou-me arte
Para retratar-te
Falta-me o traço
De um Da Vinci
De um Picasso
Fechei os olhos
E o teu olhar e o teu sorriso
No azul do azul
Foram achados
O teu rosto veio na tela
Dos meus olhos fechados


(Luiz Galvão)